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Estratégia 2010-2015

A ENED inspira-se num quadro político e institucional internacional, desenvolvido desde 1974, e que tem vindo a consubstanciar-se em declarações e recomendações produzidas por organizações internacionais, bem como na criação de instituições que gerem e alimentam as práticas da ED, ao nível da coordenação, aprendizagem e financiamento. Destacamos aqui as mais relevantes iniciativas de enquadramento político e institucional da ED, em cinco níveis distintos:

Ao nível das Nações Unidas

A 19 de Novembro de 1974, a UNESCO produziu uma Recomendação sobre educação para o entendimento, a cooperação e a paz internacionais, e a educação para os direitos humanos e as liberdades fundamentais6, que seria a base fundadora dos esforços internacionais para a afirmação da ED. Nesta, pela primeira vez, os Estados-membros são instados a assegurar a educação de todos e todas como forma de promover a justiça, a liberdade, os direitos humanos e a paz. Afirma-se a educação como instrumento contra a discriminação, a exclusão e o neocolonialismo, que deve ser guiada pelo princípio da solidariedade internacional.

Em 2000, foi aprovada a Declaração do Milénio7 pelos Estados-membros da Assembleia-Geral das Nações Unidas, na qual se estabelecem as metas a atingir até 2015 em matéria de desenvolvimento e redução da pobreza. Estas metas, conhecidas como Objectivos de Desenvolvimento do Milénio, têm marcado desde então a agenda internacional e ainda a da ED, em concreto.

A 20 de Dezembro de 2002, uma resolução da Assembleia-Geral das Nações Unidas estabelece a Década das Nações Unidas para a Educação para o Desenvolvimento Sustentável (2005-2014)8, designando a UNESCO como agência responsável pela sua implementação e convidando os governos a considerar a tomada de medidas a favor da inclusão da Educação para o Desenvolvimento Sustentável nos seus planos educativos. Entre 1995 e 2004 tinha tido lugar a Década das Nações Unidas para a Educação para os Direitos Humanos.

A nível europeu

Conselho da Europa
Entre outras iniciativas, é fundamental a Declaração de Maastricht de 2002 9, a primeira declaração a nível europeu a visar a promoção e o reconhecimento da Educação Global como componente essencial das tarefas educativas do presente, através da implementação de planos de acção nacionais. O Conselho da Europa tem também desenvolvido esforços no sentido de fazer da Educação para a Cidadania Democrática uma área prioritária das políticas educativas dos Estados10. Outros documentos relevantes neste domínio são As directrizes sobre educação global11, publicado em 2008, uma ferramenta pedagógica destinada a apoiar profissionais de educação, de sistemas formais e não formais, na compreensão e prática de actividades de Educação Global nos seus respectivos contextos, e o Projecto de Recomendação sobre Educação Global12.

União Europeia
Do ponto de vista da operacionalização do reconhecimento e apoio à ED, a Comissão Europeia é pioneira. Desde 1979 que a linha de co financiamento às ONGD, entretanto acessível a outros tipos de organizações, incluindo autoridades locais, inclui uma componente de ED. Em 2008, o relatório de avaliação da linha de co-financiamento exorta os Estados-membros a implementar estratégias nacionais e a dedicar 3% da Ajuda Pública ao Desenvolvimento (APD) a actividades de ED e sensibilização, entre outras recomendações13. Este é um sinal de que o reconhecimento formal da ED no âmbito da União Europeia tem evoluído bastante na última década, mas existem outros. Neste sentido, destacam-se os princípios e recomendações dos seguintes documentos, os quais o governo português procura seguir com a implementação da ENED:

  • Comunicação da Comissão sobre Comércio Justo14 (1999), onde se destacam actividades de ED como parte de uma estratégia de apoio ao comércio justo, nomeadamente campanhas de sensibilização dos consumidores, influência política ou actividades educativas.

  • Resolução do Conselho sobre ED15 (2001), na qual este manifesta a sua vontade de “promover um apoio maior à Educação para o Desenvolvimento, bem como à política de comunicação a ela ligada, por parte da Comissão e dos Estados-membros”, incluindo o estreitamento de relações com diversos sectores (ONG, universidades, órgãos de comunicação social,mundo associativo, etc.). Incentiva ainda a Comissão e os Estados-membros a continuarem o apoio a iniciativas de ED e determina uma avaliação das iniciativas de ED co-financiadas pela Comissão e das políticas de comunicação da UE.

  • Conferência de Bruxelas sobre Sensibilização e Educação para o Desenvolvimento para a Solidariedade Mundial Norte-Sul16 (2005), realizada sob presidência belga, na qual se chamou a atenção para a necessidade de analisar os progressos realizados desde a resolução do Conselho, nomeadamente no que diz respeito à implementação de estratégias nacionais. Estas deveriam ter em conta o debate com outros actores para além do Estado, a necessidade de articular autoridades dos sectores da educação e do desenvolvimento, visando nomeadamente a integração curricular da ED, e a necessidade de estender o acesso à ED a toda a sociedade, ao nível da educação formal e não formal. Defende-se ainda o aumento da qualidade das acções de ED.

  • Consenso Europeu sobre o Desenvolvimento: Contributo da Educação para o Desenvolvimento e da Sensibilização17, que constitui o primeiro quadro de referência estratégica sobre a ED a nível europeu. Trata-se de uma declaração elaborada com a contribuição de representantes do Parlamento Europeu, de Estados-membros da UE, da Comissão Europeia, do Centro Norte-Sul do Conselho da Europa, do Conselho dos Municípios e das Regiões Europeias, do Centro de Desenvolvimento da OCDE, da CONCORD (Confederação Europeia de ONG de Ajuda Humanitária e Desenvolvimento)18, do Fórum Europeu da Juventude e do GENE. Recomenda que “nos casos em que ainda não existem, [se devem] criar e apoiar processos estruturados e permanentes para desenvolver perspectivas a longo prazo e programas de colaboração a mais curto prazo que promovam a sensibilização e a educação para o desenvolvimento, que envolvam departamentos governamentais e agências responsáveis pela área dos Negócios Estrangeiros/Cooperação e do ensino formal e informal, em que participem igualmente organizações não governamentais de desenvolvimento e outras organizações da sociedade civil”. Reconhece ainda o papel da ED na obtenção dos resultados do desenvolvimento e declara que consagrará especial atenção à educação para o desenvolvimento e sensibilização dos seus próprios cidadãos.

  • Conferência de Helsínquia sobre Educação para o Desenvolvimento19 (2006), que desenvolve e aprofunda algumas das discussões da Conferência de Bruxelas e se centra na chamada de atenção para a necessidade de desenvolver enquadramentos estratégicos nacionais e europeus mais fortes e de promover trocas de experiências com este objectivo.

  • Conferência de Liubliana sobre Diálogo Intercultural e Educação para o Desenvolvimento20 (2008), que reforça as recomendações das Conferências de Bruxelas e Helsínquia e se centra nas relações entre a ED e o diálogo intercultural na Europa.

CAD/OCDE
O CAD/OCDE desempenha também um papel na promoção da sensibilização da opinião pública, quer através da realização de estudos e avaliação de práticas de ED na Europa21, quer através das recomendações produzidas no âmbito dos exames às políticas de cooperação dos Estados-membros.

GENE
O GENE, enquanto rede europeia para a Educação Global que reúne representantes de ministérios, agências e outras entidades nacionais responsáveis pelo apoio, financiamento e elaboração de políticas no campo da Educação Global/Educação para o Desenvolvimento, tem-se destacado, desde 2001, nos domínios da investigação, acompanhamento e avaliação de estratégias nacionais e europeias, bem como no domínio dosmecanismos de financiamento e estruturas de coordenação emmatéria de Educação Global.

Ao nível da sociedade civil europeia

Desde 1979 através do CLONG (Comité de Liaison das ONG) e, a partir de 2003, através da CONCORD, a sociedade civil europeia, nomeadamente as ONG de Desenvolvimento, têmdesempenhado umpapel importante na promoção da ED a nível europeu, através de projectos específicos como o DEEEP22 (e dentro deste a criação das Escolas Europeias de ED anuais) e o Fórumde ED, cujos objectivos passam pela construção de alianças e parcerias entre actores da ED, contribuindo para o desenvolvimento do enquadramento internacional sobre a mesma.


6 - http://www.peace.ca/unesco1974recommendation.htm
7 - http://www.un.org/millennium/declaration/ares552e.htm
8 - http://www.un-ngls.org/orf/UN-resolution-2002.doc
9 - www.coe.int/t/dg4/nscentre/GE/GE-Guidelines/GEgs-app1.pdf
10 - http://book.coe.int/EN/ficheouvrage.php?PAGEID=39&lang=EN&theme_catalogue=120247
11 - Centro Norte-Sul do Conselho da Europa (2008), Global Education Guidelines, disponível em http://www.coe.int/t/dg4/nscentre/GEguideline_presentation_en.asp
12 - Centro Norte-Sul do Conselho da Europa (2008), “Recommendation Rec of the Committee of Ministers to member States on global education/education for global citizenship and responsibility”, disponível em http://www.coe.int/t/dg4/nscentre/ge/CM_Rec_GE_en.pdf13 - http://ec.europa.eu/europeaid/where/worldwide/civil-society/index_en.htm
14 - http://trade.ec.europa.eu/doclib/docs/2006/january/tradoc_113080.pdf
15 - http://www.deeep.org/fileadmin/user_upload/downloads/Council_resolution/resolution_pt.pdf
16 - http://www.euforic.org/awareness-sensibilisation/
17 - http://ec.europa.eu/development/icenter/repository/PUBLICATION_CONSENSUS_PT-067-00-00.pdf
18 - Constituída por dezoito plataformas nacionais e dez redes europeias, www.concordeurope.org.
19 - http://www.kehys.fi/index.phtml?s=163
20 - http://www.sloga-platform.org/news/show/396
21 - http://www.oecd.org/document/50/0,3343, en_2649_34101_39294322_1_1_1_1,00.html
22 - O Development Education Exchange in Europe Project é um projecto iniciado pelo Fórum de Educação para o Desenvolvimento da CONCORD, com o objectivo de fortalecer as capacidades das ONGD para a sensibilização, a educação emobilização do público europeu para a erradicação da pobreza e a inclusão social, www.deeep.org

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