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Estratégia 2010-2015

Formas de intervenção
Segundo os objectivos e os públicos-alvo a atingir, as principais formas de intervenção da ED são as seguintes:

  • Sensibilização: dirige-se à população emgeral ou a grupos específicos e é considerada como uma das formas de intervenção emED namedida emque constitua umprimeiro passo para a consciencialização das cidadãs e dos cidadãos relativamente à injustiça, à iniquidade e à falta de solidariedade nomundo global em que todos e todas vivemos, permitindo quebrar o ciclo vicioso desconhecimento> indiferença> desconhecimento. O seu objectivo geral é, assim, o de alertar para problemáticas e situações, para as respectivas causas e para a possibilidade de alternativas mais justas, equitativas e solidárias, despertando questionamentos, reflexões e vontade de conhecer e aprendermais e agir emcoerência. As acções de sensibilização da opinião pública têmmuitas vezes como objectivo específico influenciar a tomada de decisão relativamente a uma questão emparticular, considerada como essencial no contexto da ED, através damobilização dos cidadãos e cidadãs.

  • Intervenção pedagógica: dirige-se potencialmente a todas as pessoas, entidades e grupos informais e constitui o “coração” da ED, porque promove a aprendizagem da leitura crítica das desigualdades locais e globais, num contexto de interdependência e de identificação das suas causas e a mobilização para o compromisso com a transformação destas realidades. Implica conhecer, reflectir, problematizar, encontrar ou criar propostas alternativas para as situações ou modelos que perpetuam a injustiça e tentar concretizá-las. Em coerência, exige um envolvimento activo dos sujeitos, tanto individuais como colectivos, na revisão permanente das suas próprias perspectivas e práticas.

  • Influência política: dirige-se a quem tem poderes de decisão (político, económico, religioso, entre outros), tanto ao nível local, como nacional e supranacional, e é também uma forma de intervenção em ED quando se trata de fornecer argumentos a pessoas ou instituições compoder para tomar decisões significativas, de modo a que respeitem compromissos publicamente assumidos e possam mudar as políticas vigentes ou inflectir medidas em preparação, no sentido de assegurar decisões que promovam a justiça, a equidade e a solidariedade no contexto global. A influência política pode exercer-se sob diferentes formas como, por exemplo, o lóbi (quando se pretende tomar novas medidas ou mudar o sentido de uma medida concreta já existente, nomeadamente de carácter legislativo) e a advocacy (quando se julga fundamental mudar uma política relativa a uma determinada questão ou problemática, o que implica em geral uma intervenção mais prolongada no tempo e mais complexa).

Todas as práticas de ED devemestar ancoradas numconhecimento aprofundado das realidades do desenvolvimento e das sociedades. Há, assim, que aproximar a investigação e a ED, encontrando formas de as colocar mutuamente em diálogo, no que implica a articulação de dimensões conceptuais, de propostas de mudança e de acção baseadas, nomeadamente, na metodologia de investigação-acção.

Muitas vezes, outros tipos de intervenção,munidos de instrumentos semelhantes,mas não dosmesmos objectivos, princípios emetodologias, são confundidos coma ED. Uma das linhas de divisão que pode ser considerada é aquela que opõe a ideia de uma educação complexa – com múltiplas perspectivas e não doutrinária, deixando aos indivíduos o seu próprio julgamento e escolhas – e a tentativa de influenciar os indivíduos para uma determinada perspectiva ou acções através da comunicação e marketing 49.

Algumas das acções muitas vezes confundidas com a ED são:

  • Cooperação: os projectos de educação (infra-estruturas, ensino, formação) levados a cabo nos países “em desenvolvimento”, por projectos de desenvolvimento, não são projectos de ED, a não ser que incluam essa dimensão específica.

  • Informação sobre desenvolvimento: a mera divulgação de informações sobre projectos ou dados do desenvolvimento não é ED, uma vez que esta implica uma abordagempedagógica e implica reflexão, análise complexa e mobilização para a acção.

  • Informação institucional, autopromoção, publicidade das organizações: a informação produzida com vista a promover a imagem ou as actividades de organizações, projectos, etc., não pode ser considerada ED.

  • Recolha de fundos: a divulgação de informação tendo como objectivo a recolha de fundos para organizações ou projectos não pode ser considerada ED, bemcomo a sensibilização dos cidadãos e cidadãs para justificar o financiamento da cooperação, quer pública, quer da sociedade civil.

  • Transmissão de mensagens simplistas e eticamente questionáveis: mesmo quando as mensagens das acções não são promocionais, sãomuitas vezes questionáveis do ponto de vista ético, por exemplo no que diz respeito à utilização de imagens e referências a protagonistas dos países “em desenvolvimento”. Ao mesmo tempo, uma acção que, emlugar de desmontar estereótipos, os reforça, não pode ser considerada como ED. Por isso, há que conhecer, respeitar e promover os códigos de conduta ou outros instrumentos e metodologias que permitem a desconstrução de estereótipos e garantem o potencial de mobilização para a transformação social das mensagens.

Âmbitos educativos
Os processos de aprendizagem podem desenvolver-se em diferentes contextos ou âmbitos de actuação: formal, não formal, informal. No caso da ED, embora esta tenha começado no campo da educação não formal, a sua inclusão progressiva no sistema de educação formal tem gerado articulações e complementaridades entre estes dois âmbitos de actuação, nomeadamente com a participação das Organizações da Sociedade Civil em acções de ED nas escolas. É importante, por isso, definir aqui estes âmbitos de actuação:

  • Educação formal: levada a cabo no âmbito de instituições de ensino públicas ou privadas, associada a “diferentes etapas de desenvolvimento (anos académicos), devidamente graduadas e avaliadas quantitativamente; estes anos académicos organizam-se por disciplinas e a cada uma delas estão associados programas curriculares gerais aprovados e reconhecidos pelos órgãos competentes. Até um determinado nível, a educação formal (o ensino) é obrigatória”50. Dá acesso a diplomas oficiais.

  • Educação não-formal: é aquela que não é providenciada no quadro do sistema educativo formal e que, em regra, não conduz à obtenção de um diploma ou certificado, mas que, no entanto, supõe uma intencionalidade por parte de educandos e educandas e por parte dos educadores e educadoras, objectivos estruturados, horários definidos e um enquadramento organizacional. Pode ser concretizada através de acções de formação, seminários, oficinas/workshops e actividades análogas, que têmpor objectivo o desenvolvimento de determinadas competências, designadamente competências sociais e cívicas.

  • Educação informal: pode definir-se como tudo o que aprendemos mais ou menos espontaneamente a partir do meio em que vivemos, das pessoas com quem nos relacionamos informalmente, dos livros que lemos ou da televisão que vemos, damultiplicidade de experiências que vivemos quotidianamente com mais ou menos intencionalidade em relação ao seu potencial de aprendizagem. A educação informal não é necessariamente organizada ou sequer orientada. De alguma maneira, a educação informal confunde-se com o processo de socialização dos indivíduos51.



50 - Pinto, L. (2005), “Sobre Educação Não-Formal”, Cadernos de inducar, Maio, disponível em http://www.inducar.pt/webpage/contents/pt/cad/sobreEducacaoNF.pdf

51 - Ibidem.

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